Miguel Servet nasceu em 1509 em Huesca, Espanha, de uma família descendente de judeus convertidos. Com habilidades notáveis, que incluíam o conhecimento do idioma grego, latim e hebraico, logo saiu de casa na intenção de dar continuidade aos seus estudos.
Considerado um homem de insaciável curiosidade e grande inteligência, ele se interessava por assuntos relacionados aos campos da Astronomia, Meteorologia, Geografia, Teologia, Jurisprudência, Matemática, Física, Anatomia e Medicina, bem como o estudo da Bíblia, o qual lhe rendeu uma condenação por morte em fogueira.
Em sua fase como Frei Juan de Quintana acabou se tornando confessor de Carlos I, aceitando-o como pupilo. Juntos, eles viajaram pela Itália e Alemanha contatando pessoas associadas à Reforma, que seriam de grande importância. Passada esta fase, ele viajou por algumas cidades da Europa Central, onde as pessoas eram mais voltadas ao protestantismo, e estabeleceu laços fortes, porém considerados controversos, com alguns dos líderes da Reforma, como Johannes Oecolampadius Basel, hereges e anabatistas perseguidos.
Em 1531, já havia escrito seu primeiro livro, em que apontava erros sobre a Trindade, argumentando que os dogmas propostos por ela não eram encontrados na Bíblia, mas sim em especulações de filósofos e teólogos tiradas de inúmeras citações bíblicas.
Suas ideias não passaram despercebidas à época, e por isso, católicos, bem como protestantes, proibiram seu livro. Sua relação outrora amigável com Oecolampadius deu lugar a uma grande inimizade. Após ser denunciado por ele, fugiu para Estrasburgo, na França. Perseguido pela Inquisição espanhola, que emitiu um mandou de prisão em seu nome, foi obrigado a se esconder sob uma identidade falsa em Paris, chamando-se Michel de Villeneuve (ou Michael Vilanovanus).
Trabalhando como professor de Matemática, que incluíam Astronomia, Astrologia e Geografia, em 1534 conheceu Juan Calvino, famoso reformista francês. Porque precisava de dinheiro, viajou até Lyon para publicar uma edição de “A Geografia de Ptolomeu”. Uma vez lá, conheceu o médico Symphorien Champier, que lhe influenciou a estudar Medicina. Logo, retornou a Paris onde entrou em contato com Andreas Vesalius, pai da Anatomia moderna, e juntos começaram a dissecar corpos sob a tutela de Johan Ghunter.
No entanto, enquanto ainda trabalhava lecionando Astrologia, acabou sendo descoberto pelas autoridades de Paris, e decidiu fugir para Lyon. Enquanto desfrutava de um tranquilo período de 12 anos, escreveu em segredo um livro chamado “Restauração do Cristianismo”, considerado extremamente herético e que só foi publicado no mesmo ano em que morreu, em 1553. No livro, ele discutia suas ideias contrárias ao papel do papado e Igreja em relação à salvação.
Durante todo este tempo ele se manteve em contato com Calvino, mas sempre preservando seu anonimato. Morando em Genebra, Calvino havia instaurado um governo teocrático e intolerante. A mesma doutrina havia funcionado com êxito na França e Países Baixos. Apesar de saber que Servet criticava a tese calvinista, lhe enviou uma cópia de seu livro, “Institutos da Religião Cristã”, que o outro devolveu com inúmeras observações e uma cópia da obra “Restauração do Cristianismo”.
Enraivecido, Calvino cortou a comunicação e, ao descobrir que o autor das cartas era Michel de Villeneuve, denunciou-o à Inquisição francesa. Uma vez preso, foi ajudado por alguns contatos – como o arcebispo de Viena – a organizar sua fuga. Logo, mesmo ausente, foi condenado a pagar uma multa de 1000 libras de ouro e a morrer na fogueira, onde seria queimado junto com suas obras.
No entanto, quatro meses depois, ele foi até Genebra, onde Calvino o esperava. Mais uma vez capturado, em um processo que durou meses sem defesa, ele tentou usar a religião a seu favor. Seu argumento que alcançou maior triunfo dizia “que nenhuma autoridade eclesiástica ou civil tinha o direito de impor suas crenças ou limitar a liberdade de cada um em ter e expor as suas próprias”. Apesar de válido, seu argumento não foi considerado, e foi condenado a uma morte lenta e dolorosa na fogueira. Amarrado à uma estaca, foi rodeado por todos os exemplares de seus livros e madeira, e ali queimou por cerca de uma hora até finalmente morrer.
A morte de Servet escandalizou muitos humanistas, e graças a dissidentes e intelectuais de séculos posteriores, suas ideias sobre liberdade individual de pensamento deram origem aos pilares da democracia moderna.
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