Imagina um minuto que entrando em uma loja você não possa ler os ingredientes das caixas ou pacotes de alimentos, ou que não possa revisar seu e-mail, pagar os recibos ou inclusive responder uma simples mensagem de texto.
Como seria nossa vida se não dominássemos uma coisa tão simples como o é a habilidade de ler e escrever? Por isso nos parece tão insólita a história de uma pessoa que trabalhou durante muitos anos em uma escola sendo absolutamente analfabeta.
Desde que John Corcoran tem lembranças, a leitura nunca foi fácil. As letras sempre mudavam de lugar e as consoantes e vogais eram para ele a mesma coisa: uma sopa de letrinhas. Na escola sentava-se imóvel e quieto em sua classe tentando com todas suas forças se tornar invisível.
Talvez hoje em dia sua vida teria sido diferente, mas nos anos 50 ninguém sabia nada sobre dislexia. Tanto que no segundo grau ele foi catalogado como retardado mental, e no terceiro grau era castigado quando se negava a ler. Assim decorreram seus anos de escola.
- "Lembro que quando eu tinha 8 anos e pedia a Deus: “Por favor, que amanhã quando me peçam para ler, que eu possa fazer”".
Para ocultar seu analfabetismo, John começou a comportar-se mal, motivo pelo qual sempre era suspenso.
- "Apresentava tarefas de outros, roubava as provas e pedia a meus amigos que fizessem os deveres por mim. Não entendia o que estava escrito, mas sabia que não tinha outra opção".
Desta maneira, com tramoias e subterfúgios, conseguiu terminar a escola e formar-se em 1956. John era bom jogando basquete, e isto foi o que lhe permitiu entrar em uma universidade onde o esperavam uma bolsa de estudos e um lugar na equipe de basquete.
Os estudos na universidade se converteram em uma verdadeira prova e teve que aperfeiçoar seu talento de dissimulador. Sempre reunia informação sobre os professores e que tipo de perguntas costumavam fazer. Deslizava sua caneta pelas folhas de seu caderno fingindo que estava escrevendo e depois as arrancava e jogava no lixo para que ninguém soubesse que não sabia escrever. Passava horas olhando livros fingindo que estava lendo.
Usando diferentes truques, conseguiu terminar a universidade e inclusive diplomar-se como professor de inglês. Naquele tempo não existiam muitos professores, e assim foi como John se converteu no mestre que não sabia ler nem escrever.
A cada dia, na sala de aula, ele escolhia algum estudante a ler as tarefas do livro e depois a escrever no quadro-negro. Dava provas padrões que podia revisar sobrepondo uma folha que lhe servia de modelo. Assim trabalhou em diferentes escolas durante 17 anos.
- "Sendo professor, me doía pensar que não sabia ler. Era uma vergonha para mim, para o país e para a escola."
Em 1965 John conheceu a sua futura esposa Kathy. Confiou-lhe seu segredo:
- "Devo contar algo a você", disse antes do casamento. - "Não sei ler."
A partir daí, toda sua vida juntos, ela lia e escrevia papéis e cartas por John... Por que não lhe ensinou? Porque ele estava seguro de que ninguém podia ajudá-lo.
Nessa época, comprou uma segunda casa e alugou-a, depois outra e outra mais. Durante um tempo, seu negócio foi bem até que a sorte o traiu e o negócio desmoronou, lhe deixando um monte de dívidas. Em outono de 1986, quando completou 48 anos, John empenhou sua própria casa para pagar uma parte de suas dívidas, e depois foi a uma biblioteca da cidade que contava com uma oficina de leitura, se aproximou da mulher responsável e lhe disse:
- “Não sei ler", e chorou copiosamente após desatar o nó da mentira de uma vida toda.
Usando um método fonético, lenta e pacientemente, letra por letra, ensinaram-lhe a associar o som com as letras. Um ano depois, seu negócio começou a reviver e John aprendia a ler. Tentava ler tudo o que tinha palavras: livros, jornais, revistas, bulas, lista telefônica, ingredientes em pacotes de alimentos... Ler era tão maravilhoso como cantar.
Um dia entendeu que podia fazer o que devia ter feito 25 anos atrás. Encontrou no sótão uma caixa cheia de pó, abriu-a, tirou dali uma pilha de folhas amareladas pelo tempo e leu as cartas de sua esposa, as que lhe tinha escrito quando mal se conheceram. Nelas, Kathy dizia quanto o amava.
Em uma conferência em San Diego, exposto na frente de duzentos empresários assombrados, John Corcoran disse que tocava sua imobiliária sem saber ler nem escrever. Passou a ser um membro do conselho municipal para lutar contra o analfabetismo e inclusive é autor de dois livros: "O professor que não sabia ler" e "O caminho para o alfabetização", bem como também criou uma fundação que se dedica a ensinar pessoas que não sabem ler nem escrever.
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