Os vizinhos de um pequeno bairro residencial de Michigan não deram muito crédito quando as autoridades chegaram até suas casas solicitando sua saída imediata. As ordens eram claras: 40.000 residentes deviam abandonar o bairro, sem saber se algum dia poderiam regressar a seus lares.
O motivo? Seu vizinho, de apenas 17 anos, havia construído um reator nuclear caseiro no galpão do quintal de sua casa, motivo pelo qual o bairro inteiro foi declarado zona radioativa provisionalmente.
Parece o roteiro de um filme de ficção científica, mas foi um acontecimento real que ocorreu em Michigan, em 1994 (o Daily Mail diz que foi em 1996). O responsável por semelhante cena foi David Hahn, um jovem escoteiro de 17 anos que, empenhado em ganhar sua insígnia sobre energia atômica, se deixou levar por seu entusiasmo e inteligência.
Durante mais de um ano, David desenhou e construiu, a partir de peças recicladas e ferro-velho, um reator nuclear na edícula da casa de sua mãe. Ninguém suspeitava de nada, até que foi detido enquanto roubava pneus para seu projeto. Na caixa de ferramentas que levava em seu carro também encontraram materiais radioativos, o que disparou todos os alarmes e se transformou em um caso de assunto prioritário.
A polícia, depois de interrogar o jovem, que explicou com total naturalidade e inocência o que estava fazendo, foi até sua casa. Ali as medições ultrapassavam 1000 vezes a quantidade de radiação permitida. O galpão foi selado e coordenaram uma evacuação imediata de todo o bairro em um raio de 5 quilômetros.
Alguns dias depois, e com a zona do galpão completamente assegurada, permitiram que os habitantes voltassem a suas casas. No entanto, os trabalho de limpeza do material radioativo prolongaram-se durante algum tempo, com um custo altíssimo para a época.
- Os quadrinhos e a energia nuclear
David sempre foi um menino calado, com dificuldades para socializar, fazer amigos e com uma grande inteligência. Sempre considerou que o esporte era uma perda de tempo e que a ciência era fascinante. Primeiro foi a astronomia. Encantava-se com os planetas. Sempre pensou que um dia o homem iria a Marte ou uma das luas de Júpiter.
Aos 7 anos, ele leu a revista em quadrinhos do Homem-aranha e Peter Parker, um fotógrafo que conseguiu superpoderes pela picada de uma aranha irradiada de energia nuclear. Desde então, não parou de pensar mais nisso e em suas possibilidades.
Seus pais divorciaram-se quando ele ainda era muito jovem. Seu pai, um engenheiro da General Motors, voltou-se a casar e ficou com a guarda de David. Os fins de semana e feriados, o jovem ficava na casa da mãe, Patty.
A ciência era tudo para ele, e passava os dias fazendo experimentos em casa, até que sua madrasta proibiu tudo, logo após David colocar fogo acidentalmente na casa.
- Eu tinha um pequeno laboratório em meu quarto com um conjunto de química. Estava trabalhando para criar fósforo e acabei criando nitroglicerina, que explodiu. Machuquei a mão esquerda e queimei parte do quarto. Usava óculos e não tive sequelas. Aquele dia foi louco!", declarou David à mídia em 2013
Após a proibição foi morar na casa da mãe, que amavelmente lhe cedeu a edícula para suas experiências. Ledo engano. Ali começou a fabricar clorofórmio, reações químicas e o isolamento de halógenos. Quando começou com produtos radioativos, tomou precauções e escreveu à sociedade reguladora de energia atômica para aprender como manejar os produtos, mas não levaram muito a sério a petição de um jovem estudante do segundo grau.
Ele fez uma lista das fontes de materiais radioativos para seu reator: descobriu que o Amerício 241 poderia ser encontrado em detectores de fumaça; Rádio 226, nos relógios luminosos antigos; Urânio 238 e Tório 232, presentes em algumas lanternas de gás.
Ele conseguiu mesmo convencer uma empresa para que lhe vendessem dezenas de detectores de fumaça quebrados, afirmando que era professor e que precisava para um projeto de física em sua classe. Assim foi como, pouco a pouco, avançou em seu projeto até o dia em que, por acaso, as autoridades o descobriram.
- Vida adulta
Depois da intervenção de seus pais, David não foi processado nem preso. Para dar rédeas a sua imaginação e inquietação, seus pais o alistaram na marinha. Foi enviado a uma missão no Japão, mas as coisas logo deram errado com seu destempero e sucessivas brigas com colegas de farda.
Foi colocado em observação e diagnosticado como esquizofrênico paranoide com transtorno bipolar. Depois de um tratamento farmacológico, recebeu a baixa e foi mandado para casa em Michigan.
Em 2007, ele foi preso por roubar 27 detectores de fumaça de um bloco de apartamentos. Quando vasculharam sua casa, encontraram mais detectores e vários outros artefatos radioativos. As autoridades assumiram que estava repetindo seus experimentos.
Desta vez sua ousadia não resultou impune e foi sentenciado a 90 dias de prisão. Os registros da justiça estabeleciam que sua sentença seria postergada por seis meses para que David fosse submetido a um tratamento por exposição à radiação, devido as lesões que exibia no rosto.
Depois de sua passagem pela prisão declarou que estava se sentindo muito bem e com muita vontade de estudar e seguir inventando. Em 2013, durante uma entrevista ele disse que sua ambição era se matricular na Universidade Estadual de Michigan e criar uma lâmpada que brilhasse ao menos por 100 anos.
Seus planos foram prematuramente truncados quando faleceu no passado 27 de setembro. Nem a família, nem as autoridades sanitárias informaram as causas de sua morte, ainda que muitos acham que foi devido à contínua exposição radioativa à que David se submeteu durante quase toda a vida.
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