A fase em que somos bebês talvez seja uma das melhores de nossa vida: temos o que queremos facilmente e passamos a maior parte do dia comendo, dormindo e sem preocupações com quaisquer responsabilidades. Porém, se você já tentou se recordar de alguma memória dessa fase, certamente não conseguiu. Esse problema tem intrigado os cientistas há anos. O que será que acontece para que não possamos nos lembrar de nada desses primeiros anos?
Segundo informações da Sciece Alert, mais de um século atrás, o psicoterapeuta Sigmund Freud cunhou a definição “amnésia infantil”, enquanto tentava descobrir o que acontecia em nossa mente durante nossos primeiros anos – em que experimentamos o mundo, aprendemos a andar e a falar, mas somos incapazes de lembrar o que aconteceu.
Há um consenso de que ainda não exista uma resposta aceita para a questão, conforme reportado pela BBC Future. Muitos estudos mostraram que nossas primeiras lembranças podem variar de acordo com as diferenças culturais. Em uma pesquisa em particular, cientistas reuniram 256 pessoas dos Estados Unidos e da China. Logo, eles descobriram que os norte-americanos tinham memórias pessoais mais elaboradas, enquanto os chineses, memórias mais breves e factuais.
Em média, as memórias dos norte-americanos recuperavam seis meses a mais que a dos chineses, sugerindo que talvez os caminhos de nossas culturas estejam associados às recordações e à valorização do passado. Além disso, alguns psicólogos acreditam que a fala desempenhe um papel importante. Para Robyn Fivush, da Universidade Emory, EUA, o “idioma ajuda a fornecer uma estrutura ou organização para as nossas memórias, isso é, uma narrativa”.
Há também a teoria de que os bebês simplesmente não possuem o equipamento mental necessário para armazenar e organizar memórias corretamente, o que foi exemplificado pelo caso de Henry Molaison: após uma operação fracassada, seu hipocampo cerebral foi danificado, deixando-o incapacitado de se lembrar de quaisquer eventos anteriores, embora ainda tivesse controle da memória de curto prazo e pudesse aprender novas habilidades.
A experiência de Molaison sugere que os cérebros dos bebês precisem de um hipocampo completamente desenvolvido para funcionar como o dos adultos. Sabemos que nossos neurônios estão presentes nos primeiros anos, e é possível que quando o processo de formação dessa região é concluído, as memórias comecem a se formar.
Outra hipótese fala sobre nosso senso pessoal – que faz com que saibamos quem somos – não esteja presente ainda nessa fase. Logo, não podemos identificar quais as memórias relevantes para arquivar. Porém, assim como as outras teorias, isso seria algo difícil de provar.
Contudo, as experiências que temos quando ainda bebês afetam nossa personalidade, e isso indica que algum tipo de memória deva existir em nosso subconsciente de outra forma. O fato é que a busca por alguma explicação continua e, apesar das várias teorias, ainda não há respostas para essa questão – que, ao que tudo indica, somente os bebês poderiam responder.
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