O 3 e o 6 de agosto de 1945 são datas que viverão para sempre na memória coletiva: nas respectivas datas, Harry S. Truman, então presidente de Estados Unidos, autorizou o uso de bombas atômicas sobre populações majoritariamente civis nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em uma das estratégias bélicas mais controversas da História.
A decisão cobrou a vida de 129 mil e 246 mil pessoas nas respectivas datas, e deu origem a era nuclear.
Um post no World Post chama a atenção sobre o assunto; é o relato de uma testemunha viva da bomba de Hiroshima: Dona Setsuko Thurlow, uma ferrenha ativista pelo desarmamento nuclear, descreve a circunstância que viveu logo após a explosão da "Fat Man". Se você é sensível, aconselho que pare de ler aqui, pois a narrativa é simplesmente terrível:
"Com os olhos da estudante de treze anos que era por aquele então, fui testemunha de como minha cidade, Hiroshima, ficou cega por um enorme lampejo, arrasada por uma onda expansiva tempestuosa, abrasada por um calor de quatro mil graus Celsius e contaminada pela radiação de uma bomba atômica.
De forma milagrosa, fui resgatada entre os escombros de um edifício destruído, a uns 1,8 quilômetros da Zona Zero (ponto onde a bomba foi detonada). A maioria de meus colegas de classe, na mesma sala de aula, arderam vivos. Ainda posso escutar suas vozes chamando suas mães e pedindo ajuda a Deus.
Enquanto eu escapava com outras duas garotas sobreviventes, vimos uma procissão de figuras fantasmagóricas que se arrastavam lentamente desde o centro da cidade. Pessoas com feridas grotescas, com a roupa em farrapos ou completamente nuas pela onda expansiva. As feridas sangrentas, as queimaduras, as peles enegrecidas e queimadas como carvão. Pessoas se arrastando sem partes do corpo, carne e pele penduradas nos ossos, alguns seguravam os olhos entre as mãos, outros com os ventres rasgados e abertos, sustentavam seus intestinos.
Após um único lampejo de luz, minha querida Hiroshima converteu-se em um lugar desolado, com montanhas de esqueletos e cadáveres torrados por todos os lados. De uma população de 360.000 habitantes -a maioria mulheres, crianças e idosos civis- a maioria foi vítima indiscriminada do massacre causado pela bomba atômica.
Até o momento, 250.000 vítimas de Hiroshima pereceram por causa da onda expansiva, do calor e da radiação. Setenta anos mais tarde, as pessoas seguem morrendo por culpa dos efeitos a longo prazo de uma bomba atômica que hoje resulta primitiva, segundo os modelos atuais de destruição em massa.
Algumas semanas atrás, quando se aproximava a data do septuagésimo aniversário dos bombardeios sobre Hiroshima e Nagasaki, várias pessoas me perguntaram pelas lembranças que guardo em relação àqueles dias de 1945, quando o mundo mudou para sempre. A primeira coisa que me assalta a mente é a visão de meu sobrinho de quatro anos, Eiji, totalmente carbonizado, queimado como carvão e inchado. Enquanto agonizava, seguia pedindo água com um fio de voz. Se não tivesse sido vítima da bomba atômica, agora teria 74 anos.
É uma ideia que me impacta. Deixando de lado a passagem do tempo, meu sobrinho permanece em minha memória como o menino de quatro anos que representa todas as crianças inocentes do mundo. E foi a morte dos inocentes a que me deu o impulso para continuar com minha luta contra as armas atômicas, contra a maldade feita tecnologia. A imagem de Eiji está gravada em minha retina."